Limitar UNRWA "prejudicará cessar-fogo" e futuro dos palestinianos
- 28/01/2025
Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) convocada pela Argélia para abordar a iminente entrada em vigor de duas leis aprovadas pelo Parlamento israelita que limitam o trabalho da UNRWA, Philippe Lazzarini sustentou que esta legislação "troça do direito internacional".
"Reduzir as nossas operações agora (...) prejudicará o cessar-fogo e sabotará a recuperação e a transição política de Gaza. A implementação completa da legislação do Knesset [parlamento israelita] será desastrosa. Em Gaza, comprometerá a resposta humanitária internacional e (...) só piorará as condições de vida já catastróficas de milhões de palestinianos", argumentou o líder da agência.
Uma parte da legislação proíbe autoridades israelitas de ter contacto com a UNRWA ou qualquer intermediário.
A outra parte diz que a UNRWA "não deve operar nenhum escritório de representação, fornecer quaisquer serviços ou realizar quaisquer atividades, direta ou indiretamente, dentro do território soberano do Estado de Israel", com Telavive a incluir o território de Jerusalém Leste, o qual ocupa desde 1967 e onde está sediado o escritório de campo da UNRWA na Cisjordânia.
Em Jerusalém Leste, o Governo de Israel ordenou que a UNRWA desocupe as suas instalações e cesse as suas operações até quinta-feira, quando as leis entrarão em vigor, uma medida que afetará aproximadamente 70.000 pacientes e mais de mil estudantes.
"O ataque implacável à UNRWA está a prejudicar as vidas e o futuro dos palestinianos em todo o território palestiniano ocupado (...) e a colocar em risco qualquer perspetiva de paz e segurança", defendeu o chefe da agência.
Apesar das limitações impostas por Israel, Lazzarini assegurou que a UNRWA está determinada a "permanecer e fazer o seu trabalho até que já não seja possível".
Lazzarini denunciou ainda que o Governo de Israel está a "investir recursos significativos" para retratar a UNRWA e os seus funcionários como "terroristas".
"'Outdoors' e anúncios acusando a UNRWA de terrorismo apareceram recentemente em grandes cidades ao redor do mundo. Eles foram pagos pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel", apontou o representante da ONU.
"O absurdo da propaganda anti-UNRWA não diminui a ameaça que ela representa para a nossa equipa, especialmente aqueles que estão na Cisjordânia ocupada e em Gaza -- onde 273 dos nossos colegas foram mortos", criticou Philippe Lazzarini.
Essa campanha, avaliou o líder da UNRWA, "estabelece um precedente para Governos acusarem uma entidade das da ONU de terrorismo como pretexto para reprimir os direitos humanos" e estabelece um precedente "para criminalizar a assistência humanitária e a proteção".
De acordo com a ONU, este ano os esforços de propaganda liderados pelo Governo de Israel receberam um aumento de financiamento de 150 milhões de dólares (143,88 milhões de euros).
Em várias ocasiões, o secretário-geral da ONU, António Guterres, sublinhou a importância da UNRWA, considerando que a agência é a "espinha dorsal" da resposta humanitária na Faixa de Gaza.
Desde outubro de 2023, quando começou a guerra em Gaza, a UNRWA foi responsável pela entrega de dois terços de toda a assistência alimentar ao enclave palestiniano, forneceu abrigo a mais de um milhão de pessoas deslocadas e vacinou um quarto de milhão de crianças contra a poliomielite, explicou Lazzarini.
Nesse sentido, o líder da UNRWA apelou aos membros dos Conselho de Segurança que ajudem a travar a implementação da legislação israelita e pediu um aumento urgente no financiamento à agência.
Contudo, apesar dos seus apelos e da maioria dos Estados-membros ter manifestado apoio à UNRWA, os Estados Unidos - o aliado mais forte de Israel - saíram em defesa da legislação aprovada pelo Parlamento israelita.
"É uma decisão soberana de Israel fechar os escritórios da UNRWA em Jerusalém em 30 de janeiro. Os Estados Unidos apoiam esta decisão", afirmou a diplomata norte-americana Dorothy Shea.
"É irresponsável e perigoso o exagero dos efeitos destas leis e a insinuação de que isto irá pôr fim a todas as operações humanitárias", advogou a representante de Washington, afirmando que a UNRWA "não é e nunca será a única opção para a entrega de ajuda humanitária" no enclave.
Dorothy Shea também expressou preocupação com relatos de que reféns israelitas foram "mantidos pelo Hamas em instalações da ONU" em Gaza, apelando a uma "investigação completa e independente" sobre estas "acusações graves".
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